Maior procura pelas emissões é uma alternativa aos leilões para fomentar projetos privados que visam a construção de usinas
Empresas de energia renovável que investiram em contratos privados para venda de energia solar e eólica avaliam cada vez mais a possibilidade de emitir debêntures para financiar os empreendimentos. As informações foram apuradas pelas Reuters. Os contratos privados são negociados no chamado mercado livre de eletricidade.
A entrada das renováveis no mercado livre é uma tendência e uma nova oportunidade para um setor que por anos cresceu com base em contratos de longo prazo decorrentes de leilões promovidos pelo governo para viabilizar novas usinas e em empréstimos de instituições de fomento, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco do Nordeste (BNB).
A maior busca pelas emissões é uma alternativa para fomentar projetos privados que visam a construção de suas usinas, após a intensa competição nos leilões estatais nos últimos anos ter pressionado os preços nessas licitações, reduzindo os retornos.
Em contrapartida, a reduzida taxa de juros tem levado o mercado financeiro a buscar novas opções para garantir bons retornos de longo prazo, o que deve ajudar a estruturar as operações de captação de recursos junto à banca privada.
Segundo informação da Reuters, o responsável pela área de project finance do Santander, Edson Ogawa, contou que muitas empresas têm estudado emissões para projetos com toda a energia vendida no mercado livre, e uma operação como essa, que seria inédita no mercado pode ser anunciada ainda neste ano.
Um movimento nesse caminho foi o da geradora francesa Voltalia, que anunciou neste mês um contrato de venda por 20 anos da energia de uma usina solar no Nordeste à petroquímica Braskem.
No caso das elétricas brasileiras Cemig e Copel os leilões realizados tem seguido a oferta de contratos privados de até 20 anos para compra da produção de parques eólicos e solares, com o objetivo de revender a energia a clientes.
“Somos autorizados a prestar assessoria para mais de 2 gigawatts em projetos no setor de geração com energia vendida no mercado livre. É um número significativo, estamos falando em investimentos em torno de R$ 10 bilhões. E uma das fontes que a gente sempre analisa para financiamento é o mercado de capitais”, acrescentou Ogawa.
Segundo ele, empreendimentos financiados com debêntures também dão maior liberdade na escolha de fornecedores. Isso porque os bancos estatais atrelam seus empréstimos a metas de conteúdo local.
O chefe da project finance em energia do Itaú BBA, Marcelo Girão, afirma que as emissões para financiar esses projetos “livres” ainda não deslancharam totalmente devido aos custos e prazos bastante competitivos oferecidos pelo BNB, e principalmente, pelo BNDES.
“Muito em breve acredito que teremos projetos financiados 100% via mercado de capitais, principalmente aqueles que não têm acesso ao BNB”, afirmou ele.
As elétricas e desenvolvedores também podem fazer um mix e apostar em debêntures como captação suplementar, para aumentar a alavancagem de projetos financiados em parte pelo BNDES ou pelo BNB, principalmente após o banco da região Nordeste ter reduzido recentemente a participação máxima em empréstimos a renováveis.
Segundo Girão, os prazos de vencimento de debêntures para financiar empreendimentos renováveis com os contratos no mercado livre podem alcançar entre 10 e 15 anos, dependendo das características dos projetos.
“Observamos que as instituições financeiras estão ficando mais confortáveis em financiar projetos no mercado livre. Eles estão acostumados a financiar no mercado regulado porque sempre foi assim, mas com essa tendência de cada vez mais termos contratos no mercado livre, eles estão se adaptando”, disse a diretora da consultoria Clean Energy Latin America (CELA), Camila Ramos.
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