Por Andrea Vialli
O potencial de geração de empregos da energia solar fotovoltaica movimenta o mercado de cursos e treinamentos no segmento. Apesar das incertezas relacionadas à pandemia da Covid-19, empresas e organizações que oferecem essas capacitações adaptam os cursos para o meio digital e mantém otimismo quanto à retomada dos investimentos nos próximos meses.
A Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR) projetou, no início deste ano, que os investimentos privados no setor de energia solar fotovoltaica em 2020 têm potencial para gerar 120 mil novos empregos em todo o país, tanto na geração distribuída (GD) quando na geração centralizada. Os números se alinham a projeções internacionais da IRENA, que em 2019 apurou que a energia fotovoltaica foi o principal empregador de mão de obra entre as fontes renováveis de energia, respondendo por um terço do fluxo de trabalho no setor.
A retração econômica esperada em decorrência da Covid-19 deve impactar esses números no curto prazo, mas a médio e longo prazo a expectativa é de que o segmento volte a ter forte expansão. Segundo projeções do Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE 2019-2029), divulgadas em fevereiro pelo Ministério de Minas e Energia, a capacidade instalada de sistemas fotovoltaicos no Brasil deverá crescer quatro vezes nos próximos dez anos. Só no segmento de GD, deverá saltar dos atuais 2 GW para 11 GW, impulsionado pela queda dos preços das tecnologias e pela busca pela redução das emissões de gases de efeito estufa da matriz elétrica, uma tendência global.
Uma das pioneiras no mercado de treinamentos em energia solar fotovoltaica, a Elektsolar, de Florianópolis, oferece cursos tanto em módulos introdutórios (instalação, projetos, vendas) quanto avançados desde 2013. Em 2019, a empresa registrou um boom na procura, impulsionado pela expansão da GD no Brasil. De acordo com Gabriel Guimarães, diretor de educação da Elektsolar, os cursos introdutórios formaram mais de 100 turmas de cada um dos três módulos em 20 cidades, em todo o território nacional.
O interesse no tema e o amadurecimento do mercado fizeram com que a Elektsolar investisse na criação de cursos como comissionamento de projetos fotovoltaicos e softwares específicos para o segmento. A empresa criou uma plataforma de ensino à distância (EAD) e investiu em cursos com ferramentas de realidade virtual. A estratégia se mostrou acertada agora, com o avanço da Covid-19. “Nosso maior volume de cursos é presencial, mas já estamos adaptando nossos treinamentos para essa nova realidade. A plataforma EAD vai possibilitar alcançar tanto pessoas físicas quanto empresas, no formato in company”, diz Guimarães.
A empresa desenvolveu um pacote de treinamento específico para esse período da pandemia, com um conteúdo que mescla aulas ao vivo, que permite a interação dos estudantes, com aulas pré-gravadas e presenciais, que serão realizadas no segundo semestre de 2020. “Era comum termos alunos que viajavam grandes distâncias para fazer nossos treinamentos, agora com o avanço dos formatos digitais, estamos confiantes de que haverá uma democratização ainda maior dos treinamentos em energia solar”, afirma Guimarães.
Também veterana, a Solarize, do Rio de Janeiro, começou a oferecer cursos na área de energia solar fotovoltaica em 2011 – antes, atuava em projetos de aquecimento solar voltados a comunidades vulneráveis. A partir da publicação da Resolução 482/2012 da Aneel, que regulamentou o sistema de compensação de energia elétrica, a empresa viu a demanda por capacitações em instalação de sistemas fotovoltaicos crescer rapidamente, atingindo o ápice em 2014, conta Mauro Lerer, sócio gerente da Solarize.
“A partir daí, aumentamos a gama de cursos oferecidos, abrangendo também treinamentos gerenciais e temas mais diversos”, diz. Hoje a empresa oferece desde cursos mais básicos, como de instalador e projetista, até capacitações em estudos de viabilidade financeira para projetos fotovoltaicos, legislação tributária e societária, gestão, cálculo estrutural para sistemas solares, carros elétricos e estrutura de carregamento, entre outros. Em média, são 500 alunos capacitados todos os anos. A empresa mantém uma parceria com a Universidade Veiga de Almeida, do Rio, com um laboratório e uma miniusina onde parte dos cursos é ministrada.
Com o avanço do coronavírus, a Solarize está buscando desenvolver novos cursos digitais, uma vez que a empresa precisou suspender em março todos os treinamentos presenciais com duração de dois dias. Neste período, a empresa já promoveu webinars (seminários online), sendo um deles gratuito, e deve promover mais eventos nesse formato, como forma de manter a atividade durante o período de quarentena. “A energia solar fotovoltaica tem muito a crescer ainda no Brasil. O mercado deve caminhar sozinho depois que a pandemia passar”, diz Lerer.
Pequenas empresas
A aposta na energia solar fotovoltaica como vetor de geração de postos de trabalho e de redução de custos para as micro e pequenas empresas levou o Sebrae oferecer cursos na área. Uma das motivações foi a experiência com a instalação de uma miniusina fotovoltaica no prédio do Centro Sebrae de Referência em Sustentabilidade, em Cuiabá, com capacidade de 45 kWp. Os painéis fizeram a conta de energia da instituição cair de R$5.600 mensais para R$100. “Foi um excelente negócio. Com isso, começamos a trabalhar o mercado dos pequenos negócios, disponibilizando treinamentos e consultorias para disseminar as boas práticas aprendidas, a tecnologia disponível, a legislação vigente e principalmente a viabilidade técnica e econômica”, afirma José Valdir Santiago, gerente de Sustentabilidade para Pequenos Negócios do Sebrae-MT.
De acordo com Santiago, o Sebrae-MT disponibiliza treinamentos e consultorias para empresas instaladoras na área de gestão, marketing, finanças e planejamento estratégico. Também possui uma parceria com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e os conselhos regionais de engenharia (CREA) e arquitetura (CAU) para capacitações específicas aplicadas às normas técnicas, como NBR 5410, NBR 14039 e outras, com o intuito de capacitar os profissionais e empresas na melhoria de projetos de engenharia aplicados à energia fotovoltaica.
No total, os treinamentos do Sebrae-MT já atenderam mais de 1.700 empresas e produtores rurais do Mato Grosso, o que ajudou o estado a se destacar no cenário nacional. Mato Grosso, com 143,5 MW em GD, e o município de Cuiabá (24,6 GW) ocupam o quinto e o terceiro lugar, respectivamente, em capacidade instalada de energia fotovoltaica, segundo o ranking da ABSOLAR.
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