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Carlos Evangelista fala sobre o mercado de energia solar

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De acordo com a ANEEL devem ser realizadas 1,2 Milhões de conexões na Geração Distribuída até 2024. Entrevistamos o Sr. Carlos Evangelista, Diretor da Associação Brasileira de Geração Distribuída – ABGD, uma das associações representativas do setor, sobre os principais desafios e perspectivas do mercado de energia solar no nosso país.

Portal Solar: De acordo com a ANEEL devem ser realizadas 1,2Milhões de conexões na Geração Distribuída até 2024.

A – Quais são as principais barreiras técnicas para que isso aconteça?

Evangelista: Trata-se de uma tecnologia totalmente madura. Não vejo grandes barreiras técnicas mas sim operacionais. Os maiores problemas enfrentados atualmente junto às distribuidoras são um descompasso entre o que diz a RES482 e RES687 e o que realmente ocorre no dia-a-dia. Há muitos casos de não cumprimento dos prazos estabelecidos e provavelmente será mais crítico sob a RES687 que prevê prazos mais curtos. Por exemplo, há diversos casos de falta de medidores bi-direcionais adequados (certificados), muitas vezes impedindo as empresas de atenderem ao cliente final no prazo e custo estimados. Isso ocorre quando uma distribuidora decide discricionariamente  fazer uma “medição indireta” ao invés da convencional ( não por necessidade técnica mas por falta do medidor adequado em seu estoque), isso acarreta um custo mais alto para o cliente, chegando a  inviabilizar comercialmente a conexão em um cliente B1 (unidade consumidora residencial –  baixa tensão).

B – Quanto as barreiras econômicas?

Evangelista: As barreiras econômicas estão diretamente relacionadas com o mercado e a economia do país. Sendo assim, se o custo da energia convencional sobe muito, fica mais atrativo produzir a própria energia uma vez que a “paridade tarifária” fica mais acentuada ou até sobreposta. Se o real desvaloriza, pode ficar mais caro (em tese) instalar um sistema FV uma vez que parte do equipamento é importado, no entanto, nem sempre isso ocorre com a simples variação da moeda. Há diversos outros fatores que influenciam o preço final dos equipamentos, por vezes mais do que o valor do dólar. Do ponto de vista financeiro, as barreiras estão relacionadas com os juros e a escassez de crédito no mercado. O ideal seria que a prestação fosse menor do que o valor economizado em energia, mas para isso ocorrer são necessários juros bem mais baixos do que os praticados atualmente, ou se possível, linhas de financiamento especiais.

Portal Solar: Visando garantir a qualidade das instalações, a ABGD esta trabalhando para implantar um sistema nacional de qualificação de instaladores de energia solar fotovoltaica, o Programa de Certificação para Instaladores. Como vai funcionar este sistema?

Evangelista: Na verdade o programa Certificação para Instalador Fotovoltaico já está funcionando!

O objetivo da certificação para Instaladores Fotovoltaicos é oferecer aos clientes e distribuidoras um maior grau de proteção e confiança uma vez que terão certeza que os profissionais certificados cumpriram um número mínimo de horas/aula, atenderam voluntariamente algumas exigências, conhecem as normas técnicas e de segurança, possuem as  pré-qualificações necessárias e foram aprovados em um exame teórico e prático aplicado por instituição credenciada independente.

Isso traz vantagens para todo o mercado; para o profissional que transmitirá mais confiança aos clientes se diferenciando da concorrência, elevando o nível de conhecimento e se atualizando com as normas em vigor.

Também traz vantagens para as empresas, mitigando os riscos de problemas de instalação, diminuindo os custos de treinamento e seleção de profissionais novos e diferenciando-se da concorrência ao divulgar que dentre seus quadros existem profissionais treinados, capacitados e certificados por entidade de classe.

Portal Solar: Quantos MW de energia fotovoltaica e outras fontes de energias devem ser conectados à rede dentro da Geração Distribuída em 2016?

Evangelista: As previsões são variadas, mas uma das mais difundidas e aceitas no mercado é da própria ANEEL que foi baseada em um estudo. Essa previsão estimou que teremos 1,2 milhões de conexões na Geração Distribuída até 2024. Isso equivale a aproximadamente 11.400 MW de potência instalada, número incrivelmente baixo comparando-se a outros países e abaixo do razoável mesmo para os padrões brasileiros.

Fazendo algumas contas simples, são 9 anos, podemos concluir que isso significa 556 conexões por dia útil. Mesmo dividindo igualmente pelas 63 distribuidoras de energia (o que é incorreto, pois esse mercado está mais concentrado nas regiões Sul e Sudeste), daria uma média de 9 conexões por dia em cada uma das distribuidoras. Evidentemente que nenhuma delas, nem mesmo a CEMIG (campeã de conexões no Brasil) está preparada para esses números pois ainda tratam o assunto GD (Geração Distribuída) como exceção. No entanto, se priorizarem e incorporarem a conexão de GD em seus procedimentos rotineiros, todas têm plena capacidade de atender essa demanda sem problemas ou atrasos. Para tal, todas terão que se preparar e se adequar rapidamente!

Portal Solar: Como os sistemas de energia fotovoltaica podem ajudar na crise do setor elétrico?

Evangelista: Todas as fontes de energia podem e devem ajudar em uma eventual crise do setor elétrico, particularmente a energia fotovoltaica pode contribuir de maneira especial devido as suas particularidades e especificidades, fazendo dela uma das mais exequíveis para se utilizar em Geração Distribuída.

Ao injetarmos mais energia na rede, sem depender diretamente de investimentos do governo, contribuímos para satisfazer a demanda crescente de energia que inexoravelmente virá nos próximos anos, com ou sem crise. Alem do que, a expansão desordenada dos grandes centros urbanos complica bastante o balanceamento das cargas na região metropolitana. A Geração Distribuída, quando bem planejada, contribui para minimizar esse problema. Por fim, produzir e consumir a própria energia no mesmo local (ou mesma região) vai ao encontro de maior eficiência energética e menores perdas na transmissão e até na própria distribuição em si. Isso é uma tendência mundial irreversível e que atende aos anseios da sociedade que busca soluções sustentáveis e de fácil implantação.

Portal Solar: O investimento em um gerador de energia solar é menor que o investimento em um carro popular mas um valoriza o seu imóvel o outro deprecia anualmente. No entanto, existem diversas linhas de financiamento para carros populares e para energia solar nem tanto. Quais são as opções de financiamento disponíveis hoje no mercado?

Evangelista: Podemos ir mais longe nessa comparação!  Ambos, o Carro e o Gerador de Energia trazem benefícios aos seus proprietários, mas um é fonte de despesas (carro) e outro é fonte de receitas (gerador fotovoltaico). O gerador pode gerar receitas independentemente da ação de seu proprietário, basta deixa-lo sob o sol. E continuará fazendo o mesmo por 30, as vezes 35 anos ininterruptamente.

Mesmo assim, há poucas opções de financiamento disponíveis no mercado, falamos aqui de opções de financiamento específicas para GD com fontes renováveis. O fato de não existir ainda um mercado secundário para sistemas FV contribui para isso. Sem dúvida alguma, a falta de uma política clara e duradoura para o setor influencia negativamente, e isso aliado com os altos juros praticados desestimula a possibilidade de financiamentos fartos e baratos para esse segmento. Mesmo assim, podemos dizer que há algumas linhas especiais, subsidiadas, que atingidas suas premissas particulares podem ser acessadas com certa facilidade. Podemos citar o Desenvolve SP (Linha Verde), Agefepe de PE, Goiás Fomento (FCO Empresarial) de GO, Banco do Nordeste (FNE Verde), e algumas outras linhas “heróicas”.

Portal Solar: Quais são as ações previstas da ABGD para 2016

Evangelista: Em 2016 a ABGD está com um forte plano de crescimento e consolidação. Antes mesmo de conseguirmos nosso CNPJ (emitido agora em fevereiro), atingimos o número de 50 associados em apenas 4 meses, isso no meio das férias e carnaval. Nossa previsão é de atingir 250 associados até o final do ano.

Temos empresas de vários tamanhos e segmentos, desde empresas de porte grande, com ações na bolsa e parques eólicos funcionando,  passando por empresas integradoras com mais de 100 sistemas instalados, fabricantes de equipamentos líderes em seu segmento, até empresas pequenas que estão iniciando no mercado de GD. Todas elas, sem exceção,  têm direito igualitário de voto e todas contribuem proporcionalmente ao seu tamanho.

Relativo as ações no mercado, primeiro nos aproximamos das principais Associações que direta ou indiretamente se relacionam com nosso mercado. (Solar, Biogás, Eólica, etc). Focamos bastante em eliminar ou mitigar os principais problemas que atingem os integradores, EPC’s, Instaladores, Investidores e provedores de solução no mercado de GD. O objetivo principal é sempre melhorar as condições de mercado (técnicas, regulatórias, financeiras e políticas) visando expandir o máximo possível o segmento de Geração Distribuída, para trazer benefícios à sociedade e aos Associados da ABGD.

Particularmente neste primeiro semestre temos dois planos em andamento. O primeiro é consolidar a certificação do Instalador Fotovoltaico que já está funcionando e com inscritos para a primeira prova em Agosto. Outro plano em andamento é o IPTU verde/ IPTU solar. Trata-se da expansão e ampliação de uma lei já aplicada na área de energia solar térmica e que agora também será efetivada para Geração Distribuída. Trata-se da regulamentação de descontos progressivos no IPTU para quem investir em Geração Distribuída, uma ideia antiga e que já está funcionando em alguns municípios brasileiros, como Palmas, por exemplo.

Há outras ações em estudo como a viabilização de GD em clientes A4, um mercado promissor que abrirá novas portas de oportunidades para os Associados. Enfim, todas as ações da ABGD são pautadas em beneficiar e proteger os Associados, sempre buscando benefícios para a sociedade brasileira como um todo.

Carlos Evangelista é graduado em Engenharia elétrica e Direito, pós graduado em Comunicação de Marketing  e MBA em Marketing pela FEA/USP. Atua no setor de Energia há mais de 15 anos onde trabalhou na direção de empresas globais como Ericsson Energia, Emerson Energia, Avaya e como Diretor Geral da Leuze Electronic do Brasil e VIS Technology Participou de vários projetos de geração distribuída no Brasil, sendo um dos responsáveis pelo startup da primeira indústria nacional de módulos fotovoltaicos no Brasil, em 2010. Em 2012 coordenou o grupo consultivo da ABINEE (Associação Brasileira da Indústria Eletro-Eletrônica) no  trabalho “Inserção da Energia Solar Fotovoltaica na Matriz Elétrica Brasileira”. Atualmente é o presidente da ABGD – Associação Brasileira de Geração Distribuída.

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